O estudante envolvido de forma ativa e atuante no seu processo de aprendizagem e o professor assumindo o papel de orientador e mediador da discussão sobre a solução de problemas expostos. Este processo de aprendizagem instiga e provoca assim como acontece na vida, em que os problemas aparecem sem avisar e precisam de solução. A diferença é que a Metodologia Ativa quando aplicada durante a formação profissional, o professor está ali, com todos os seus recursos, conhecimentos e vivências para orientar o estudante na condução do melhor resultado.
De acordo com autores que estudam este processo como Meyers & Jones, a Metodologia Ativa pode ser definida como o conjunto de atividades que ocupa o estudante a fazer algo ao mesmo tempo em que deve pensar sobre o que está fazendo. Na prática, o estudante interage com o assunto em estudo ao invés de somente recebê-lo de forma passiva do professor. Este por sua vez, assume o papel de orientador, supervisor, facilitador da aprendizagem, mas não é a única fonte de informação do estudante.
Apesar de entender que a Metodologia Ativa de aprendizagem já era praticada desde a época de Aristóteles, na Grécia, por volta de 300 a.C., o pró-reitor Acadêmico da Universidade Católica de Brasília (UCB), Prof. Dr. Daniel Rey Carvalho, é um dos docentes que recomenda este sistema de aprendizagem para as salas de aula do século XXI. “Trata-se de uma tendência. O mundo globalizado exige amplos conhecimentos de todos nós e a quantidade e velocidade da informação impõem grande capacidade de análise crítica e discernimento. Temos que saber o que reter e aplicar e, o mais interessante, o momento de aplicar”, observa o professor.
Superando limites – A expectativa da sociedade com o desempenho dos profissionais mostra-se cada vez mais elevada. Um formato de ensino que leva à superação dos limites do conhecimento apresentado em sala é defendido por estudiosos em discussões que buscam práticas docentes adequadas a este tempo. Práticas que eliminem o contrastre verificado em ambientes que ainda apresentam uma sala de aula do século XIX, com alunos copiando o texto do quadro, professores do século XX e alunos do século XXI.
As Metodologias Ativas de Aprendizagem geram interações entre docentes e estudantes nas atividades acadêmicas, de modo que não haja um único detentor pleno e absoluto do conhecimento. O estudante é colocado como parte integrante e participativa da construção de seus saberes, habilidades e competências, frisa Rey de Carvalho. Para o professor da área de Odontologia, a aplicação de Metodologias Ativas leva o estudante a um rápido progresso em intervalo de tempo menor. Além disso, “o estudante torna-se muito mais crítico, reflexivo e discute seus assuntos de interesse com mais domínio e em maior profundidade”, avalia.
A percepção do professor da UCB vai ao encontro do que diz um dos estudiosos dos efeitos do método, Mel Silberman, quando cita que as Metodologias Ativas levam à assimilação de um volume de informação maior e geram mais confiança nas decisões e aplicação do conhecimento em situações práticas.
Discutir e resolver – Ocorre que “a vida adota Metodologia Ativa naturalmente”, constata o pró-reitor da UCB, pois os problemas aparecem sem aviso prévio e nós temos que, além de resolvê-los, nos adaptarmos à nova realidade no menor intervalo de tempo. Na aplicação da Metodologia Ativa, o professor conta que o estudante é exposto a problemas ou desafios em que as soluções requerem identificação das principais variáveis intervenientes. As variáveis são estudadas conforme a literatura pertinente e o estudante passa a elaborar hipóteses de solução do problema, com vistas à aplicação das melhores soluções. Todo esse processo é “regado” a muita discussão com outros estudantes e com o professor, de modo que este último fica com o papel de conduzir o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, atuando muito mais como um orientador e mediador.
Parecendo novidade para alguns, o princípio das Metodologias Ativas é bastante antigo. Além de Aristóteles, o pensador chinês Confúcio escreveu há 500 a.C, “o que eu ouço, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu compreendo”.
As estratégias para conseguir a aprendizagem ativa são várias. A sistematização como é conhecida atualmente data da década de 60, no Canadá, aplicada inicialmente na escola de Medicina, passando a ser utilizada atualmente em várias áreas do conhecimento. Todas, porém, provocam as funções mentais de pensar, raciocinar, observar, refletir, entender e combinar. Neste ambiente, o professor também tem que se manter em posição ativa, recorrendo a estudos, selecionando informações, explicando de formas diferenciadas, fazendo analogias, escolhendo terminologias adequadas.
As Metodologias Ativas aplicam-se a qualquer área do conhecimento, defende o professor da UCB. Ele declara que existem muitas técnicas e deve-se variar e adaptá-las conforme a necessidade do grupo de estudantes, da preferência do professor ou de acordo com as recomendações da instituição de ensino. Usualmente quando falamos de Metodologias Ativas há uma associação natural e exclusiva com o PBL (Problem-Based Learning), Aprendizagem Baseada em Problemas. De maneira menos restritiva, existem mais de 30 técnicas descritas na literatura que colocam o estudante de forma ativa e atuante no seu processo de aprendizagem.
Avaliação permanente – A eficácia da Metodologia Ativa, segundo Rey Carvalho, é avaliada por meio da resposta do estudante no transcorrer do processo de ensino-aprendizagem. Durante esta fase, o professor observa as dificuldades do estudante e personaliza a orientação. “Acredito que o envolvimento e a evolução do estudante, culminando com a sua capacitação naquela atividade proposta é que deva ser avaliado”, destaca.
Na UCB, o assunto tem sido tema de oficinas e observa-se que já existem iniciativas isoladas em diversos cursos, relata o professor ao reconhecer que o próprio estudante sente a necessidade de tornar o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico e participativo. Contudo, ele defende que, acima da adoção de qualquer metodologia ou técnica, é necessária uma mudança de atitude do professor e do estudante. “As relações entre os atores envolvidos e o objeto de estudo têm que ser construídas de maneira muito sólida, com muito respeito e ética, com base em princípios científicos e humanísticos”, conclui.
Sugestão de leitura – Para aqueles que se interessam em compreender melhor as Metodologias Ativas de aprendizagem, o Prof. Daniel Rey Carvalho indica algumas leituras:
- “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire (Editora Paz e Terra, 1996);
- “Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula”, de Léa das Graças Camargos Anastasiou e Leonir Pessate Alves (Editora Univalle, 2003 – SC);
- Artigo: “Arco da Problematização de Maguerez”, da professora Neusi A. Berbel.
Foto: Faiara Assis/UCB